terça-feira, 18 de setembro de 2012

As Bruxas De Salém

Bruxas de Salém refere-se ao episódio gerado pela superstição e pela credulidade que levaram, na América do Norte, aos últimos julgamentos por bruxaria na pequena povoação de Salém, Massachusetts, numa noite de outubro de 1692. O medo da bruxaria começou quando uma escrava negra chamada Tituba contou algumas histórias vudus (religião tradicional da África Ocidental) a amigas, que, por esse facto, tiveram pesadelos. Um médico que foi chamado para as examinar declarou que deveriam estar embruxadas.
Os julgamentos de Tituba e de outros foram efetuados ante o juiz Samuel Sewall. Cotton Mather, um pregador colonial que acreditava em bruxaria, encarregou-se da acusação. O medo da bruxaria durou cerca de um ano, durante o qual vinte pessoas, na sua maior parte mulheres, foram declaradas culpadas e executadas. Um dos homens, Giles Corey, morreu de acordo com o bárbaro costume medieval de ser comprimido por rochas em uma tábua sobre seu corpo até morrer, levando ao total 3 dias. Foram presas cerca de cento e cinquenta pessoas.
Mais tarde, o juiz Sewall confessou que pensava que as suas sentenças haviam sido um erro.
As principais testemunhas de acusação — que se diziam sob influência de bruxaria — foram Ann Putnam, Jr., Elizabeth "Betty" Parris, Maria Walcott e Abigail Williams.

Os casos de bruxaria em Salém teriam tido influência de drogas?

A vila de Salém era um lugar triste e sombrio no fim do inverno de 1692. Entre as imensas florestas e o mar vasto e calmo, parecia que o mundo estava se fechando para os colonos puritanos que habitavam a área. Duas tribos de nativos norte-americanos lutavam entre si em um lugar próximo. A varíola (em inglês) tinha começado a afetar a população de cerca de 500 pessoas. "Em 1692, era fácil acreditar que o diabo estava muito perto de Salém", escreve o historiador Douglas Linder (em inglês). "Mortes repentinas e violentas ocupavam as mentes das pessoas".
A estrutura social também estava sob pressão. Três novas gerações haviam nascido na vila desde a chegada dos colonos originais, cada uma delas aparentemente mais afastada da devoção séria e religiosa ao código bíblico que havia guiado os puritanos da Europa para a imensidão norte-americana. O plano original dos puritanos de criar um novo Jardim do Éden parecia estar dando errado.
Em fevereiro de 1692, o diabo, que na imaginação dos puritanos se escondia em cada sombra de Salém, finalmente apareceu. Os aldeões lutaram de maneira violenta e desenfreada contra ele.
Nove meses mais tarde, 37 pessoas estariam mortas por causa dos julgamentos de bruxaria. Elas seriam mortas pelos próprios aldeões, pessoas com as quais haviam crescido, trabalhado e que as conheciam pessoalmente.

Os colonos no Novo Mundo haviam sido examinados em busca de sinais de bruxaria e isso não era necessariamente raro. Mas nunca um grupo havia se comprometido dessa maneira com o que parecia ser uma loucura.
Isso não significa que os aldeões de Salém estavam clinicamente loucos no inverno de 1692. É impossível fazer essa afirmação, mas historiadores procuram respostas para esse acontecimento desde que ele ocorreu. Em 1976, uma historiadora sugeriu que talvez um alucinógeno natural tenha sido a causa de um dos momentos mais tenebrosos da história norte-americana.
Esporão do centeio: o LSD natural


Em fevereiro de 1692, Elizabeth Parris, a filha do novo pastor da vila, ficou doente sem nenhuma explicação. A menina de 10 anos começou a ter um comportamento estranho: ela gritava com seu pai, jogava-se pelo quarto e reclamava que sua pele estava sendo beliscada e picada. O médico local William Griggs ficou perplexo com os sintomas da garota e depois que as tentativas de tratamento falharam, ele declarou que o demônio estava influenciando a garota: ela estava "possuída". Depois de um tempo, outras meninas na vila começaram a apresentar a mesma doença.
Como os puritanos acreditavam que o diabo trabalhava junto às bruxas, os moradores de Salém, que já estavam desconfiados, começaram a suspeitar uns dos outros. No centro havia Tituba, uma escrava barbadiana que trabalhava para o reverendo Samuel Parris, o pai de Elizabeth. Tituba e outros moradores foram acusados pelas garotas que estavam sofrendo ataques e convulsões.
Nenhum historiador chegou à conclusão de que realmente foi a bruxaria que causou as doenças nas meninas e existem várias explicações para as supostas possessões. Talvez a mais interessante seja a afirmação da historiadora Linda Caporael de que foi o envenenamento por esporão do centeio ou ergot que originalmente criou a histeria.
O esporão é o resultado de um alcalóide tóxico (e geralmente fatal para os humanos) que se desenvolve no centeio. Por séculos, os fazendeiros souberam da existência do alcalóide, ao qual chamavam de capim, mas pensavam que ele era inofensivo [fonte: Shelton (em inglês)]. Algumas pessoas acreditavam que o capim, que parece um grão inteiro e preto, era simplesmente um grão queimado pelo sol [fonte: Caporael (em inglês)]. No entanto, não era esse o caso.
Surtos de envenenamento por esporão do centeio já aconteceram em outros momentos da história e o caso mais antigo registrado aconteceu na Alemanha, em 857 d.C. A idéia de que o esporão do centeio estava causando uma doença horrível chamada Fogo de Santo Antônio apareceu em 1670, depois de uma investigação do médico francês chamado Thuillier [fonte: Universidade de Geórgia]. Mas apenas em 1853 Louis Rene Tulanse provou, sem deixar nenhuma dúvida, que esses capins estavam causando a morte agonizante de várias pessoas e animais.


O simples fato de se comer um pão contendo a farinha feita com o grão infectado pelo esporão do centeio podia ser suficiente para matar uma pessoa. O envenenamento por esporão do centeio pode se manifestar de duas maneiras:
ergotismo gangrenoso - causa queimação na pele, bolhas e apodrecimento das extremidades, que acabam caindo. A doença geralmente causa a morte da vítima;
ergotismo convulsivo - ataca o sistema nervoso central, causando loucura, psicose (em inglês), alucinações, paralisia e sensações de formigamento. Esses sintomas fizeram a historiadora Caporael lembrar dos sintomas apresentados por Elizabeth Parris, principalmente a loucura.
Registros feitos durante o ano de 1692 descrevem o comportamento que as garotas afetadas apresentavam. Ele tinha uma semelhança incomum com um estado alucinógeno, e o fungo contém isoergina, principal ingrediente da droga LSD. Será possível que Elizabeth Parris e as outras pessoas afetadas tenham comido centeio e contraído ergotismo convulsivo?
Esporão do centeio: realidade ou ficção?
Caporael não criou a sua teoria a partir do nada. A historiadora pesquisou a estação de crescimento do centeio, o grão em que o esporão parece crescer mais facilmente. Ela descobriu que houve um verão úmido em Salém, Massachusetts, antes do inverno de 1692 (o esporão se espalha mais facilmente em climas úmidos).
A historiadora também pesquisou onde as famílias das garotas que sofreram os ataques, considerados feitiçaria pelos aldeões, pegavam os grãos. As duas primeiras garotas afetadas, Elizabeth Parris e Abigail Williams, eram primas e viviam na mesma casa, então as duas teriam comido os mesmos grãos. Além disso, 2/3 do salário de quem cuidava das garotas (o reverendo Parris) era pago em produtos, como grãos, em vez de em dinheiro [fonte: Caporael (em inglês)]. Os Parris poderiam ter conseguido de fontes diversas os grãos que comeram.


A teoria do envenenamento por esporão do centeio parece explicar as aflições sofridas pelas garotas, mas a idéia foi contestada desde que foi apresentada em 1976. Alguns historiadores acreditam que seria possível que Elizabeth Parris, a primeira a garota a adoecer, tenha sofrido de alguma forma de envenenamento por esporão. No entanto, acredita-se que as outras garotas tenham aproveitado a oportunidade de afastar o tédio da vida colonial com uma farsa. Se isso for verdade, é difícil imaginar as reações delas quando os adultos tomaram as rédeas e começaram a enforcar seus vizinhos.
bruxas2Outros historiadores não acreditam que o esporão tenha alguma ligação com os julgamentos das bruxas em Salém. O Dr. Peter Hoffer, professor de história da Universidade de Geórgia levanta algumas questões: "Por que aconteceu apenas com as garotas e não com os outros?" ele pergunta. "Por que apenas em 1692, por que nada aconteceu nos anos anteriores ou seguintes?"  Hoffer, que já escreveu muitos textos sobre os julgamentos de bruxas em Salém, é um dos que acreditam que as garotas que acusaram os vizinhos de praticar bruxaria estavam pregando uma peça nas pessoas. Independentemente da causa, quer tenha sido envenenamento por esporão do centeio, uma brincadeira de criança, uma vingança por injustiças do passado, uma tentativa de se apoderar de terras ou histeria coletiva, os julgamentos de bruxas em Salém representaram um período tenebroso da história norte-americana. Se não fosse pelas confissões confusas que a escrava Tituba fez quando foi interrogada, pelo diagnóstico de feitiçaria feito pelos médicos, ou pelo barril de pólvora que Salém era na época, se qualquer uma dessas coisas não tivesse acontecido, talvez os julgamentos não tivessem ocorrido. Mas tudo se uniu e criou um ambiente cheio de suspeita e de impulsividade imprudente.







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